
Resumo:
Percebemos a pós-modernidade tratando conceitos como um adversário a se despir de contornos na busca por um ideal de fluidez – o resultado dessa abstração é a vagueza. Conceituar, no entanto, encontra raízes no pragmatismo peirciano; ou seja, na aplicabilidade da ideia no real. Esvaziar conceitos fundamentais em prol de subjetividades dispersas dificulta a comunicação, o que tende a aumentar a despolitização: a partir daqui, trazemos a citação da filósofa Celia Amorós que compõe o título. Reconhecemos que conceituar é uma referência importante para conhecer. É uma maneira de compreender nosso entorno, e negá-lo só faz aumentar o sofrimento no processo de nos entendermos no mundo. Aprender a dar contornos a termos e ideias continuadas é também reconhecer-se na linguagem, tornando possível o compartilhamento de sistemas sígnicos, algo imprescindível para que a comunicação aconteça; afinal, os repertórios dos sujeitos devem se tangenciar para possibilitar um diálogo (Torres, 2006, p. 105). A partir do pressuposto de que esse esvaziamento se reflete na comunicação visual, influenciando nosso repertório e, consequentemente, na maneira como propagamos ideias, direcionamos nosso olhar para imagens que buscam representar um conceito polissêmico, familiar, alvo de muitas torções: liberdade, em torno de padrões retóricos, utilizando da pesquisa por palavras-chave em plataformas de busca por imagens. Iniciamos o artigo tratando da função de conceitos como um contraponto ao ideal de vagueza e, em especial, sua importância na comunicação e no design, onde marca um dos pontos iniciais do processo criativo. Levantamos alguns dos sentidos que o termo “liberdade” carrega: etimologicamente, na filosofia, na política, na sociologia. Em seguida, partimos para a coleta de imagens gráficas, capas de livros e iconografias. Por fim, verbalizamos o que cada imagem tende a retratar a fim de classificá-las e compará-las com as informações recolhidas a respeito do conceito “liberdade” e organizamos os resultados em quadros de padrões retóricos. Com essa triagem e posterior comparação dos resultados, pareando-os com alguns dos sentidos levantados, apontamos como o esvaziamento do conceito pode se refletir em suas traduções visuais, influenciando nossa capacidade crítica, e de que maneira a máxima pragmática de Peirce pode nos auxiliar na produção e leitura de signos visuais simbólicos; isto é, na significação dos conceitos, objeto da análise pragmática. Comparamos alguns dos sentidos de liberdade e sua tradução intersemiótica para avaliar a abertura semântica que tende a ser incorporada. De maneira mais profunda, procuramos perceber nas sutilezas das repetições as tendências de esvaziamento e tensionamento da linguagem e tratar pontos conceituais cruciais de maneira despreocupada e acrítica, dificultando a elaboração em cima de certos termos e ideias.